Sobre álcool, Alzheimer e diabetes

Pesquisa recente mostra que quem vai parar na emergência de um hospital devido a um quadro de abuso de bebida tem mais chances de morrer em 12 meses Reuni três pesquisas sobre assuntos relevantes (e recorrentes) para a coluna, divulgadas ao longo do mês de dezembro, com informações que merecem ser compartilhadas. Começo pela que aponta a relação entre ferimentos causados pelo consumo excessivo de álcool e o aumento do risco de morte no ano seguinte. Publicado no “Journal of Studies on Alcohol and Drugs”, o trabalho mostra que indivíduos que buscam o setor de emergência de um hospital devido a um quadro de abuso de bebida – o leque vai de uma intoxicação a acidentes de carro, passando por quedas e brigas – têm cinco vezes mais chances de morrer num prazo de 12 meses do que o restante da população.
Álcool: quem vai parar na emergência de um hospital devido a um quadro de abuso de bebida tem mais chances de morrer em 12 meses
Michal Jarmoluk para Pixabay
O levantamento se baseou em registros de dez milhões de atendimentos nas emergências do estado norte-americano da Califórnia. “De cada cem pacientes feridos que estavam intoxicados ou tinham problemas de uso abusivo de álcool, cinco morreram no ano seguinte. No resto da população, a proporção era de um para cem”, detalhou Sidra Goldman-Mellor, professor da University of California, Merced. Nos EUA, de 2019 para 2020, houve um aumento de 25,5% no número de pessoas com algum grau de dependência, e o número de mortes vem crescendo 2.2% por ano. Apesar de ser uma condição médica, as estatísticas revelam que menos de 10% recebem tratamento.
Uma descoberta conjunta de cientistas do Massachusetts Institute of Technology (MIT) e do Scripps Research avança para desvendar o motivo pelo qual as mulheres são mais sujeitas a desenvolver a Doença de Alzheimer: trata-se de uma proteína chamada componente C3 do sistema complemento, que atua nas respostas imunológicas do organismo. O problema é que, no cérebro de mulheres que morreram devido à enfermidade, foi encontrada uma forma modificada e prejudicial dessa proteína em níveis seis vezes acima do que estava presente nos cérebros de homens. O time também constatou que o estrogênio, hormônio cuja produção declina a partir da perimenopausa, protege o organismo da forma quimicamente alterada da C3, resultante de um processo denominado S-nitrosilação.
Há décadas os cientistas sabem que os cérebros de indivíduos com Alzheimer apresentam um nível mais alto de proteínas complemento e outros marcadores de inflamação. Recentemente, estudos mostraram que tais proteínas são capazes de acionar as microglias, células do sistema nervoso central com função de proteção similar à dos glóbulos brancos, para destruir as sinapses – as conexões através das quais os neurônios enviam mensagens – provocando o declínio cognitivo. Agora se dá a constatação de que a S-nitrosilação da C3 aumenta quando o estrogênio cai. Dois terços dos pacientes portadores de Alzheimer são do sexo feminino e a chave pode estar nas mudanças que ocorrem na menopausa, o que só reforça a necessidade de a terapia de reposição hormonal ser discutida com menos preconceito por parte dos médicos.
A boa notícia é o resultado de nova pesquisa sobre como o jejum intermitente pode reverter um quadro de diabetes tipo 2, de acordo com estudo publicado no “Journal of Clinical Endocrinology & Metabolism”. Durante três meses, um grupo de 36 participantes foi submetido a uma dieta de jejum intermitente: a pessoa só se alimenta numa determinada janela de tempo durante o dia, o que ajuda o corpo a queimar gordura. O resultado foi que 55% suspenderam a medicação e se mantiveram em remissão por pelo menos um ano. O trabalho desafia o conceito de que a remissão só ocorre naqueles que estão doentes há pouco tempo: 65% dos que se livraram dos remédios eram diabéticos há mais de seis anos.

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